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O Dr. Panigrahi, no centro, descobriu que os bebês aos quais foi ministrada uma bactéria probiótica têm menos probabilidades de desenvolver uma infecção. (Kallola Mishra
Talvez seja possível, dizem cientistas, salvar milhares de recém-nascidos em países pobres tratando-os com um simples probiótico — uma cepa de bactérias originalmente retirada da fralda de uma criança saudável.Um amplo teste clínico realizado no interior da Índia permitiu concluir que bebês aos quais foi ministrada uma cepa especial de bactérias Lactobacillus, por apenas uma semana, apresentaram 40% a menos de probabilidades de terem sepse, uma infecção sanguínea praticamente mortal.
A sepse mata 600 mil recém-nascidos ao ano, muitos deles na Índia e nos países vizinhos.O tratamento teve tanto sucesso que o painel de supervisores decidiu parar o teste logo no início porque não seria ético continuar dando placebo à metade dos bebês do estudo. Além disso, os bebês que tomaram o probiótico – com o custo de apenas $1 — também tiveram menos pneumonias, menos crises de diarreia, menos infecções de ouvido, e até mesmo menos infecções do umbigo.Os resultados, segundo os pesquisadores, sugerem que probióticos cuidadosamente escolhidos também podem ajudar a prevenir o retardo no desenvolvimento que aflige 160 milhões das crianças do mundo todo. A doença é causada por desnutrição crônica e diarreia, e persiste mesmo quando as crianças recebem alimentos em quantidade suficiente.
Os especialistas acreditam que elas carecem da bactéria necessária para absorver os nutrientes.O estudo “é absolutamente decisivo”, afirmou o Dr. Tobias R. Kollmann, imunologista especializado em pediatria da Universidade da Columbia Britânica, que não participou da pesquisa. “Nós não temos nada que se assemelhe a isto em nossa parafernália para prevenir as infecções em recém-nascidos. Além disso, o que pesa é o fato de ser tão barato, fácil de usar – por via oral – e independe dos laboratórios farmacêuticos e dos seus problemas de patentes”, prosseguiu.
Em geral, os suplementos probióticos têm a finalidade de colonizar o intestino com bactérias benéficas a fim de impedir a fixação de cepas prejudiciais. Os cientistas não sabem ao certo como funciona a formulação do teste, mas acreditam que talvez fortaleça as paredes do intestino impedindo que bactérias perniciosas vazem para o sangue, e também ative as células imunes nos tecidos linfoides que revestem o intestino, e que costumam migrar para órgãos distantes onde podem atacar as infecções. A revista “Nature” publicou o estudo em agosto; um comentário adicional de Daniel J. Tancredi, um especialista em estatísticas da saúde da Universidade da Califórnia, em Davis, definiu os resultados “espantosos”. O autor principal do estudo, entretanto, recomendou cautela porque ele não considerou todos os probióticos benéficos ou mesmo seguros.
Misturas como as vendidas nas lojas de produtos de alimentos saudáveis “são completamente absurdas”, afirmou o autor, Dr. Pinaki Panigrahi, pediatra do Instituto de Pesquisas sobre Saúde Infantil do Centro Médico da Universidade de Nebraska. Os probióticos devem ser perfeitamente adequados à doença para qual são prescritos, como é o caso dos antibióticos, disse Panigrahi. Tomar um probiótico inadequado seria como tomar um remédio contra o resfriado para a tuberculose, ele falou, porque justamente afetaria o trato respiratório.
“Se você mistura três ou quatro ou cinco, será o seu funeral”. Ministrar as bactérias erradas a uma criança doente pode ser fatal, por isso a sua equipe passou mais de dez anos testando 280 cepas diferentes, à procura daquela que grudasse no intestino, sem jamais entrar na corrente sanguínea, e pudesse acabar com as bactérias nocivas. Algumas amostras foram extraídas de iogurtes indianos ou vendidas em lojas de alimentos saudáveis, mas a sua capacidade de colonizar os intestinos foi “quase zero”, afirmou. A vencedora foi a amostra Número ATCC-202195, de Lactobacillus plantarum de uma criança saudável de 11 meses.Os Lactobacillus tiveram de ser ministrados com um açúcar indigesto que ele chamou de “alimento para os bichinhos”.O trabalho de Panigrahi foi financiado pelos National Institutes of Health in América (centros de pesquisa do departamento de Saúde). Ele espera ampliar os testes para bebês doentes e prematuros, que correm o maior perigo de ter sepse.
O Dr. Christopher P. Duggan, um pediatra da Escola de Medicina de Harvard, que estuda a nutrição das crianças na Índia e na África, achou o estudo “fascinante”, mas quer que ele seja repetido em algum outro lugar, “apenas para ter a certeza de que não é bom demais para ser verdade”. Como trata bebês com intestinos prejudicados, ele concordou com o Dr. Panigrahi que o probiótico errado poderia causar sepse, em lugar de preveni-la. Outros especialistas, como o Dr. David Clark, neonatologista do Centro Médico de Albany, no estado de Nova York, e o Dr. Gregor Reid, pesquisador de probióticos na Western University de London, Canadá, concordou que os futuros testes clínicos devem comprovar que os probióticos previnem inclusive o retardo no desenvolvimento.
Em alguns países, este retardo faz com que praticamente a metade das crianças não se desenvolvam quanto deveriam, e sofram de dificuldades de aprendizado durante a vida toda. Mas conseguir o dinheiro para a realização destes estudos é difícil, afirmam os especialistas, por causa dos preconceitos contra os probióticos em muitas instituições de financiamento, que consideram o seu uso uma forma de medicina pseudocientífica, e não uma medicina baseada em evidências.
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