A SEGUNDA VEZ A GENTE NUNCA ESQUECE


Tinha tomado um café moderado. Afinal, dentro de alguns instantes teria pela frente mais um desafio. Naquele instante surge uma dúvida: a largada será às 08:00 ou às 09:00? A certeza de que seria a segunda opção era quase absoluta e, por isso, fiquei sossegado. Ao ouvir a voz de Joãozito Silva, ainda em casa, percebi que o momento havia chegado. 

-Dentro de alguns instantes teremos a largada da oitava Corrida do Fogo.

Pus um fim em meu estado relaxado de espírito e vi que agora era para valer. Temi que estivesse errado em minhas previsões e acabasse sendo eliminado, por queimar a largada ao contrário. O objetivo não era nada audacioso. Apenas completar a prova mais uma vez e, se possível, baixar o tempo de 2011. Chegando lá, descobri que estava certo quanto ao horário. Menos mal, porém eu não me apresentava nos meus melhores dias, quanto à disposição para enfrentar aquela missão que requeria um esforço e preparo consideráveis.

O par de tênis novos já estava em seu devido lugar. Não tive escolha, pois o remanescente do ano anterior já se mostrava exausto e incapaz de enfrentar, mais uma vez, aquele martírio. Não escutei o conselho da amiga Wênia, que havia me alertado para o risco de usar acessório novo nos pés, em um momento tão especial. Mas eu, nesciamente, havia pensado que este problema só existia com as chuteiras, que precisam ser amaciadas, antes de usadas.

Enfim, após aquecimento, alongamento, saí em busca de um destino que terminava onde começou. Já no início percebi que algo estava diferente. A passada mais pesada, o calor mais intenso do que no ano anterior, mas mesmo assim segui o meu roteiro. Ainda na Avenida Almirante Barroso avistei Gustavo Rovaris da TV Itararé. Permaneci no meu ritmo e ultrapassei o colega da imprensa, na Assis Chateaubriand. Nas proximidades de onde era o "Tamborzão", onde joguei no meu tempo de juvenil, senti as evidências iniciais da fadiga muscular. 

Na João Wallig, pensei em parar pela primeira vez. Avistei o Amigão. Lembrei dos bons e maus momentos já vividos naquela praça de esportes e resolvi que aquela história não poderia terminar tão cedo. A Vigário Calixto estava logo ali, como quem quer ser explorada. Então "comi a corda" do meu pensamento positivo. O cansaço aumentava, mas nada que pusesse em risco a minha integridade física, afinal este ano eu havia treinado bem e tinha até feito o mesmo percurso dias antes.

Não sei se era o calor, o maldito tênis novo, os quilinhos a mais, enfim, eu estava pensando seriamente em parar no meio do caminho. Mas no meio do caminho tinha uma pedra. Então pensei:

-Chegando ao MOTIVA, a motivação me fará completar o percurso. 

Nos últimos quilômetros, aquelas palavras de ânimo vindas de, seja lá quem for, fazem uma diferença e tanto. Pensava eu que nas competições do tipo São Silvestre, os populares estavam a perder o seu tempo, incentivando os corredores. Para mim, eles (os atletas) estariam tão concentrados que nem captariam o menor ruído. Qual nada! Os ânimos ficam renovados e me fizeram perceber que dava para chegar, afinal eu estava acostumado com aquela distância. Era apenas um mau dia para a prática da corrida, como aquele centroavante que não diz para que veio em uma partida importante.

Ao chegar no contorno que dá acesso ao Açude Velho, tentei fugir do sol, indo pela direita. Assim como Romário, em fim de carreira, que ficava só no lado da sombra, em São Januário. Fui alertado de que não era permitido, tinha de ser pela esquerda. Olhei para trás, vi um grupo há uns cem metros e Rovaris no meio. Permaneci no ritmo "piso morto" e avistei a Almeida Barreto. O ponto de partida e também de chegada. Nunca pensei que alguns metros fossem tão distantes, como uma miragem no deserto.

Uma hora e cinco minutos. Eis o meu tempo. Exatamente igual ao de 2011, porém com um pouco mais de transpiração. Tudo o que vem após a parada tem um sabor bem maior do que apresenta na vida real. A medalha é como a de um Jogos Olímpicos, o iogurte de morango tem sabor de mel, a água diz porque é vida e tudo o que as pernas querem é descansar. No final, valeu a pena. Atividade física sempre e uma vida saudável pela frente. Mas, tudo tem o seu preço e em 2013 preciso treinar mais forte, para evitar a fadiga. Quem sabe, baixar este tempo perpétuo em uns 10 minutinhos que seja. Vamos em frente! Mas na próxima oportunidade, com um tênis amaciado. Tomara que a terceira vez seja sim, inesquecível, no bom sentido da palavra.



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