MEDO DO DESCONHECIDO


Era uma quarta-feira à tarde, como outro dia qualquer. Dia propício para se tomar atitudes costumeiras, de  rotina.
- Tentei te dar uma chance ao ficar sensibilizado com a sua situação. Você estava cabisbaixo, triste, desconfiado, jogado às traças e um cigarro entre os dedos, apesar da pouca idade. Ao me ver você percebeu que era a oportunidade de que precisava para sua auto-afirmação, para se sentir mais forte, útil e capaz. Hesitei por um momento, mas permiti que você me tocasse, e neste instante fiquei preocupado se algo de mal iria me acontecer. Ao perceber sua inexperiência, ameacei diminuir seu pagamento, afinal de contas, era a minha integridade física que estava em jogo. Nervoso, você tentou puxar conversa para quebrar o gelo, algo comum entre os seus colegas de profissão, mas de sua boca só saíam palavras fúteis. Começa a chover e você demora a terminar o serviço. Me preocupo com a sua falta de habilidade para realizar uma tarefa tão fácil. Olho para o lado e vejo seus dois colegas, mais experientes, realizando o desejo dos clientes com naturalidade, a ponto de estes até fecharemos olhos, como forma de demonstrar confiança para com o profissional em questão. Suas mãos trêmulas, prejudicavam o desenrolar do processo em que há uma dependência mútua. Fiquei com medo e ansioso para que tudo terminasse o mais rápido possível. Não havia dúvidas de que se tratava de um iniciante. Por um momento, me arrependi de ter ido àquele lugar. Deveria ter ido aonde sempre ia, pois em time que está ganhando não se mexe. À minha frente, minha imagem refletia e eu contemplava a minha face e o semblante pensativo e tenso.
- Amigo, você fica falando abobrinhas aí, mas no fim você até que gostou e pagou todo o valor combinado. É verdade que eu estava um pouco nervoso, mas o que interessa é que no final deu tudo certo. Sabemos que todos os que são experientes, um dia já foram iniciantes. O primeiro passo precisa ser dado. Quando você precisar dos meus serviços outra vez, eu não estou mais naquele lugar, estou noutro local.
- Obrigado amigo, mas daqui por diante acho que vou resolver meu problema sozinho. Não gasto nada e sai do jeitinho que eu quero. Catorze reais? Muito caro. Pago dez e o outro cara fica satisfeito. É o tipo da coisa que não vale a pena trocar. De namorada, mulher , roupa, emprego, time, escola e outras coisas tudo bem. Mas o que sempre dá problema quando se muda é de cabeleireiro. Fui cortar o meu cabelo com você, seu novato e quase morro do coração, com medo de ter a orelha decepada. Mas a culpa não é sua é de quem colocou você para trabalhar no salão, afinal prefiro barbeiro ao invés de cabeleireiro.
- Eu vou ter um salão futuramente, assim como o Zohan, personagem de Adam Sandler.
- Boa sorte, meu caro. Mas já disse Seu Madruga: eu gosto é de futebol.


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