CRÔNICAS QUE NINGUÉM MAIS LÊ E NEM DEVERIA: Pequenas Lembranças, Grandes Momentos

 


Hoje em dia, os hábitos dos jovens dos anos 80 e 90 estão voltando à tona, graças às redes sociais. Situações tidas como normais naquela época, atualmente estão servindo como uma fábrica de memes, em que há uma certa ridicularização, muitas vezes provenientes dos próprios personagens que aparecem nas gravações. Por exemplo, alguns adultos de hoje afirmam, em tom de gracejo, que acordavam aos domingos, para assistir ao programa Pequenas Empresas, Grandes Negócios. Tempos bons, que não voltam mais. Sem internet, quem era o centro das atenções? A televisão e tudo o que fizesse parte de sua programação. Rádio, revista, jornal impresso e até gibis também recebiam a nobre incumbência de entreter a população, na corrida paradoxal de passar o tempo, torcendo contra a chegada da velhice.

Na minha infância e adolescência, domingo quase sempre tinha igreja, pelada com os amigos, futebol na TV e Sílvio Santos. Não conseguia entender o que se passava na cabeça de quem não assistia Topa Tudo Por Dinheiro. Qual a motivação para sair de casa e perder o que deveria ser imperdível? O futebol tomava outra grande parte do tempo. Na escola, na rua, nas quadras e campos disponíveis. Mas, também principalmente nos sonhos, no imaginário, nas arquibancadas e de frente ao velho televisor, preto e branco e colorido na sequência. Colocaram, em 1995, o jogo dominical às 18 horas. A Philips já não aguentava o peso dos anos. O meu pai dizia a todos que tinha comprado no ano em que Taffarel defendeu os pênaltis. Olimpíadas de Seul, 1988. A Seleção Brasileira era gigante. Temida, respeitada, embora nem sempre vencesse, como foi naquela decisão, a primeira do aparelho receptor de imagens.

Não podíamos aceitar tamanha decepção e vimos que se ligássemos, depois de acionar o botão pela metade, às vezes dava certo. Era como empurrar um carro velho, para a bateria funcionar. Os verbos no plural indicam a presença dos meus dois irmãos, também ansiosos e minha mãe indiferente, por não gostar de jogo de espécie alguma, conforme relato seu. Acrescente-se aí também o meu pai, amante do futebol, desde os tempos de Garrincha e Pelé. A estratégia passava por deixar a TV ligada desde Pequenas Empresas, até o desejo de uma boa semana proferido pelo Señor Abravanel. Neste meio tempo, dava para acompanhar, pelas vozes marcantes do rádio paraibano, os jogos de Treze e Campinense também.

Um bom tempo se passou e o cenário pouco a pouco se transformou. Acabou o programa Silvio Santos, embora ainda vá ao ar, ninguém mais respeita ou quer saber da Seleção Brasileira. Galo e Raposa estão quase abraçados no marasmo do fundo do poço, a televisão agoniza, tentando sobreviver às novidades digitais, que já assassinaram o impresso, balearam as revistas, mas as Pequenas Empresas continuam. Ainda bem.

 

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