CRÔNICAS QUE NINGUÉM MAIS LÊ E NEM DEVERIA: O dedo do treinador


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Se o campo de futebol fosse um tabuleiro de xadrez, então os atletas seriam as peças e o treinador poderia ser o jogador, de olho na rainha ou no rei. Os movimentos sutis precedidos de uma intensa reflexão e avaliação, tentando prever a reação do adversário, são comparáveis a uma mão no queixo com olhar distante ou uma agachada na área técnica. O objetivo deste pseudo-arquivo cientifico é tentar descobrir em quais momentos exatamente, o tão propagado dedo do treinador pode ser identificado, naqueles instantes decisivos e cruciais, que acabam culminando em vitórias ou derrotas.

Quando o técnico coloca alguém que estava no banco de reservas e este faz o gol da vitória, há quase um consenso coletivo de que o dedo do treinador funcionou. Talvez não exista uma unanimidade, enfatizada por Nélson Rodrigues, nesse momento. Reluto, mas é necessário também observar por outro ângulo. Se o professor fosse bom mesmo, poderia ter começado com o salvador da pátria em questão, entre os titulares, não acha? Partindo desse pressuposto, teria sido um erro e nada justificaria a aclamação pela suposta decisão genial. Consegue perceber o quão subjetivo é o futebol? Tanto é fato que nem o árbitro de vídeo está sendo capaz de elucidar aqueles lances de interpretação, que proporcionam uma verdadeira insegurança jurídica dentro das quatro linhas. Se no futuro, os robôs fossem testados na arbitragem, como se sairiam nessa hora?

Seguindo com a analogia forçada entre o xadrez e o futebol, seriam os jogadores peças com comportamento previsíveis, espalhadas numa prancheta, capazes de realizar movimentos facilmente identificáveis de ataque e defesa, enquanto os seus líderes os fazem de bonecos de ventríloquo? No auge da minha quase insanidade ensandecida, chego a imaginar como seria uma partida do Brasileirão sem treinadores. Ninguém dando orientações, nem sequer um interino. Nada de reclamações, pressão, intimidações, caretas, palavrões, sinais indecifráveis com os dedos. Um sonho para a arbitragem, quiçá para os atletas também.

Será que os boleiros conseguiriam se organizar dentro de campo sozinhos? Isto é comum no futebol amador. As lideranças surgem entre os próprios companheiros, que vão ditando as jogadas e principalmente mandando colocar a bola no chão. Existem também duas situações que precisam ser levadas em consideração. A primeira é quando vemos um grupo limitado tecnicamente, que consegue feitos inesperados e incompatíveis com sua aptidão e habilidade, numa clara ação da chefia, do coach, ou mesmo devido aos demais fatores - os quais jamais seríamos capazes de identificar - que fazem com que o time dê aquela famosa liga, como se fala no futebolês. Existe também o curioso caso das equipes consideradas galáticas (Real Madrid), que não conseguem dar resultado, por problemas de ego, vestiário, deficiência técnica do técnico ou outras conjecturas.

De todo jeito, continuaremos a ver profissionais recebendo elogios e críticas justificáveis ou não. Muitos irão se aproveitar de alguma situação em que houve um toque de genialidade, ou individualismo, para receber o ônus da conquista. Alguns serão competentes ao ponto de dar um xeque-mate no rival e outros serão injustamente penalizados quando os seus soldados não forem capazes de assimilar suas ideias e perceberem que sempre haverá alguém gesticulando, esbravejando, implorando, xingando, à beira de um ataque de nervos, tentando alertar, sem poder entrar em campo, que só faltam quatro minutos, por exemplo. São muitas as possibilidades de reação nesses casos. Uma delas é virar as costas para o mundo e se convencer de que nem sempre o indicador do treinador funciona como deveria. Tem momentos em que ele não é o dedo de minerva e existem ocasiões em que a culpa é mesmo do Sobrenatural de Almeida.

 

 

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