CRÔNICAS QUE NINGUÉM MAIS LÊ E NEM DEVERIA


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As redes sociais impactaram a humanidade, representando a chegada de uma nova era. Não somente elas, mas todo o conglomerado de inovações tecnológicas, modernização, automação, com a tão falada e propagada globalização. Tranquilamente poderíamos, sem exageros, separar a história dos Homo sapiens sapiens em antes e depois da internet. Talvez, aprofundando um pouco mais o tema, faríamos esta separação ainda mais detalhada, analisando o período pré e pós-revolução dos celulares. Tracemos, portanto, um paralelo entre as classes política e jornalística, concomitantemente com a relação dos profissionais de imprensa com aqueles que vivem do futebol. Os políticos sempre precisaram dos meios de comunicação para publicizarem os seus atos e tentar dar continuidade aos seus projetos de perpetuação no poder, ou mesmo para continuar a se "sacrificar" pelo bem-comum. O primeiro jornal que se tem notícia foi criado no ano 54 antes de Cristo, pelo imperador romano Júlio César. Os séculos se passaram e os donos das emissoras de televisão, revistas, jornais e rádios, que detinham a força do Quarto Poder ,ditavam as regras do jogo, lastreados pelas robustas verbas publicitárias, que permitiam que toda a engrenagem continuasse a funcionar. 

Porém, ao que parece o jogo virou. O jornalismo, que sempre foi visto com desconfiança, perdeu as forças de vez. Qualquer um pode se declarar jornalista, comprar ou conquistar seguidores. Os políticos agora têm como se comunicar com os seus clientes, eleitores, simpatizantes e público em geral, sem a necessidade de recorrer aos "atravessadores". Transmissões ao vivo, lives, mensagens em tempo real. Onde fica agora o poder de barganha da linha editorial? Antigamente, se determinado veículo de comunicação fosse preterido na hora da divisão do bolo, o trunfo era descer a lenha, como se diz no popular, naquele que esqueceu de chegar junto com os recursos. Hoje em dia, a decadência advinda da desregulamentação da profissão, faz com que quem quiser sobreviver, tenha que bater nas portas dos gabinetes com o pires na mão.  A contrapartida? A velha e boa assessoria de imprensa de sempre. Quem não acompanhou o desespero da Globo, pela sobrevivência a qualquer custo? William Bonner virou um quase assessor de comunicação voluntário.  Fizeram o L e voltaram à primeira colocação na arrecadação.  A Record, que antes era a preferida, foi ultrapassada e vai precisar segurar a onda nas críticas para não encarar a retaliação sofrida pela Jovem Pan.

Por semelhante modo, aqueles que antes tinham que aguentar os radialistas e jornalistas, deram também o seu grito de independência no futebol. Basta ver o ambiente hostil das coletivas de imprensa. Antes, havia uma certa interdependência.  O envolvimento na semana do clássico, nos programas esportivos, era determinante para levar um bom público ao estádio. Hoje em dia, o treinador e seus comandados falam porque são quase obrigados. Quem quiser pagar 100,00 ou até muito mais para entrar nas arenas, que pague. Se não quiser ir, não faz falta. O menino Mbappé, na Copa do Mundo, falou que não concederia entrevistas e assim aconteceu. Pode me multar que eu pago, disse ele. Como numa briga de gato e rato, em que não se sabe quem é quem, alguns dirigentes do Botafogo de João Pessoa se desentenderam com jornalistas da Rede Paraíba de Comunicação. Excluíram os profissionais da empresa do WhatsApp. Que deselegante! Justamente do grupo que enviava todas as matérias praticamente já mastigadas. Não estou por dentro da situação. Não acompanho de perto, mas deve haver neste caso, excessos dos dois ou pelo menos de um lado da moeda. Os desentendimentos, quase sempre, podem ser evitados com a política da boa vizinhança. Mas em dias tão conturbados, apesar de supostamente o amor ter vencido, fica tudo muito difícil de se apaziguar. As coberturas jornalísticas podem até ser comparadas a um relacionamento. Existe o dia-a-dia, a rotina de uma segunda-feira de manhã, as mesmas pessoas e perguntas, convivência, humores variados, oscilantes ou ausentes. 

Lembram das entrevistas concedidas pelos presidentes do Regime Militar? A conversa no puxadinho de Bolsonaro, Lula querendo expulsar o correspondente Larry Rohter, que o chamou de bêbado, Jair Picerni batendo no repórter, Oswaldo de Oliveira partindo para cima do entrevistador... Alguém recorda? A palavra mágica, que está em falta nesses ambientes citados, é humildade e um pouco de educação também. Jornalista nunca foi e nem deveria se achar dono do mundo, ainda mais nos tempos atuais. Muito menos dirigentes e profissionais do futebol e da política. Quando algo é perguntando por um certo alguém, empunhando um microfone e outra pessoa se dispõe a responder, não se trata mais de um simples diálogo entre ambos. Há, às vezes, um estádio cheio assistindo, lendo ou ouvindo tudo e tirando suas próprias conclusões. Não existe mais a figura impoluta do formador de opinião. Hoje, as pessoas se servem como querem das notícias, fatos, ou artigos de opinião e criam suas próprias verdades. Quem continua vivendo na década em que nasceu já perdeu a inteligência natural e será presa fácil para tudo o que é artificial. 

 

@basilionetoo

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