Tiquinho Soares e Botafogo - uma combinação perfeita. Paraibano, de Sousa, o jogador rodou o mundo para encontrar o seu próprio futebol, depois dos trinta anos. Já havia brilhado em Portugal, é fato, mas precisava voltar para o Brasil, a fim de mostrar para os seus compatriotas e conterrâneos que também pode fazer "milagre”, como um bom santo de casa. Nada mais oportuno do que atualizar o currículo e no calor da decisão ter argumentos para responder a pergunta: jogou onde? O atleta Hulk, outro dia foi flagrado perguntando isso. O que será que ele e o jogador Tiquinho têm em comum, além de serem paraibanos?
Tenho
recordações com os dois. O menino Givanildo, ainda dando os primeiros passos no
futsal, com o time do Parque da Criança, em Campina Grande, era adversário da
escolinha da qual eu fazia parte, nos tempos de estudante de Educação Física. Alguns
anos depois, já como jornalista, trabalhei em um jogo em que Soares defendia as
cores do Treze, em 2013, no estádio Presidente Vargas. Vindo do Cerâmica do Rio Grande do Sul, recebeu a alcunha dos torcedores do seu novo time, de "A
Peste" e " O Matador de Raiva ". E daí? Ninguém é obrigado a ser
como os grandes craques: Ronaldo, Ronaldinho, Romário, Edmundo, Rivaldo, Pelé e
tantos outros que desde as categorias de base foram se destacando e subindo
como um foguete. O menino de Sousa foi se lapidando com o tempo.
Dez
anos se passaram, e agora Soares é o destaque do Botafogo no Brasileirão.
Muitos olham meio que de lado e não cogitam aceitar a ideia de o time da
estrela solitária ser novamente campeão nacional e nem suportariam ver seu
principal jogador brilhando na Seleção Brasileira. Tudo bem que o time
carioca nunca chegou nem perto de ganhar a Libertadores, por conseguinte, não
sabe o que é sonhar com o Mundial de Clubes. Já foi rebaixado para a Série B
três vezes, mas tem títulos importantes ao longo de sua longa trajetória, como
o Brasileiro de 1995 e a extinta Copa Conmebol de 1993. Talvez por isso, haja
um descontentamento disfarçado, ou mesmo uma botafogofobia, de quem não quer
ver o ex-patinho feio sentado na mesa dos poderosos.
Dinheiro
já não é mais problema. Não seja por isso. Pessoas certas, nas funções
adequadas. Recursos bem geridos, profissionais selecionados a dedo. Se não
estou sendo precipitado, diria que um novo tempo surgiu. A era John Textor.
Parem de comprar aviões. Mirem o exemplo do Glorioso. O nome, em
homenagem ao bairro da capital carioca, faz alusão a ação de alimentar os
canhões dos antigos navios de guerra, que vagavam pelo mundo a fora.
Para
muitos, Soares é um jogador feio que faz gols. Será sorte ou o gramado
sintético? A verdade é que o Botafogo tem totais condições de mudar os
rumos de sua história. Deixar de ser lembrado apenas pelo gol impedido de
Túlio Maravilha, em 1995, validado pelo árbitro Márcio Rezende, pelo
vice-campeonato da Copa do Brasil, contra o Juventude, com o Maracanã lotado.
Teve também o episódio do "chororô", quando Cuca
era o treinador e o time não engoliu a derrota e perda do título carioca para o
Flamengo.
É
o momento de virar a página. Da redenção. Não mais no velho Caio Martins, mas
agora no Nilton Santos, ou Engenhão, com o superlativo de quem
planeja, coordena, controla, executa e administra com excelência. O lendário
Zagallo também jogou pelo Alvinegro, assim como Garrincha, Jairzinho, Bebeto,
Paulinho Criciúma, Seedorf, entre outros. No auge dos seus 91 anos, o velho
lobo bem que poderia novamente soltar aquele seu grito de desabafo, para os
céticos de plantão. Ou melhor, emprestar, ceder a permissão, os direitos
autorais para que Tiquinho Soares e seus companheiros possam passar uma
mensagem para o mundo do futebol: vocês vão ter que nos engolir! Quanto a uma
possível parceria entre os paraibanos Soares e Hulk, quem sabe na Seleção do Diniz,
Ancelotti ou do Barroca? No Brasil, com suas desigualdades e injustiças sociais, até quem não gosta de futebol, acaba sendo um pouco botafoguense, mesmo sem saber.
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