A morte do Bicho-papão

             



     O Bicho-papão há um bom tempo já não era mais o mesmo. Perdeu o respeito. Valia-se das reminiscências para tentar amedrontar os inimigos, mas no seu íntimo tinha pleno conhecimento das suas limitações. No início, até conseguiu enganar a si mesmo e a alguns adversários. Só que, aos poucos, os conflitos e o acirramento dos ânimos foram dando mostras de que algo já não era compatível com as insígnias bordadas no uniforme de guerra.

O comandante perdeu o controle da corporação e até pediu para os seus soldados, de personalidade fraca, um favor. O líder dos subordinados subiu à tribuna para discursar favoravelmente ao seu mentor. Garantiu que todos estariam com ele. Não haveria espaço para desertores. Outro exército, mais forte e capacitado, até tentou supostamente minar a força do grupo através de uma possível cooptação mas, nada feito. O trato era ficar no barco até o fim.

Só que o capitão-mor tinha um temperamento muito ígneo e explosivo. Não conseguiu se conter diante dos apupos e protestos dos suseranos e vassalos. Estava disposto a testar suas habilidades de luta e artes marciais, mas foi contido pelos agregados e o fosso de hexa metros de profundidade. Este foi o seu último ato. Já está em outra guarnição, iniciando mais um processo árduo baseado na eloquência persuasiva de quem sempre está pronto para justificar os seus insucessos no campo de batalha.

Dias depois, chegou o seu sucessor. Menos temperamental, mais polido e pronto para mostrar serviço. O proletariado enxergou na mudança, uma oportunidade de se livrar do patrão opressor. Mas tudo, ao que parece, não passou de uma farsa no estilo mais-valia, criação do tal Karl Marx. No final, a classe trabalhadora acaba sendo decepcionada, ludibriada, como num debate eleitoral, para presidente, repleto de atores, que nem deveriam estar ali. A massa que leva o travesseiro para sentar-se no concreto quente, é a mesma que nem pode entrar no Coliseu da Borborema com guarda-chuva.

Sendo assim, foi pior. A troca de comando não trouxe o resultado esperado. Até aquele que era  menosprezado por muitos, classificado como lagartixa, transformou-se em um dinossauro imponente. Não há mais nada para se apegar. O presente não trará uma lembrança, apenas uma lembrancinha do que era a realidade, hoje apenas virtual. O reino deverá ficar fechado, durante mais da metade do ano vindouro. Não se sabe ao certo se algum dia, ou quanto tempo vai demorar para novamente o hino ser entoado na parte em que fala: “Salve a Raposa, bicho-papão.

 

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