Arte: Andrei Basílio
Poxa vida,
professor! Eu estava torcendo por você. Moleque jovem, treinador estudioso,
determinado no alcance das metas estabelecidas. Claro que falo apenas pelo que
consigo ver à distância através das plataformas digitais e pela imprensa. Ao
que parece, comprar briga com repórteres ou jornalistas não é uma boa
estratégia a se adotar. Não que os profissionais de comunicação estejam sempre
com a razão, longe disso, mas cria-se um clima em que o entrevistado sai sempre
como o vilão da história.
Primeiro que
eu acho que deveriam acabar com as coletivas pós-jogo. Futebol mexe com paixão
e envolve muitos interesses. Poderíamos separar os que vivem do esporte –
atletas, comissão técnica, crônica esportiva, empresas de marketing esportivo,
equipes de transmissão, vendedores ambulantes, apostadores - ou seja, movimenta
e muito, a economia. Do outro lado, tem os que encaram tudo isso como
entretenimento e reagem de maneiras distintas, de acordo com a expectativa que
foi criada naquilo que pode ser encarado como apenas um jogo ou espetáculo. Num
cenário em que os artistas são os jogadores, ou quando o futebol equivale a razão
de uma existência, o que caracterizaria o fanatismo.
O professor,
já de cabeça quente, precisa enfrentar os microfones e se justificar após as
derrotas. Depois de um triunfo, é sempre mais tranquilo. Faltou o quê? Por que
escolheu o esquema tal? Qual a razão de não ter colocado aquele jogador? Às
vezes não dá para tentar explicar o inexplicável. A estratégia passa por culpar
a arbitragem, os seus comandados, assumir a responsabilidade, dizer que foi a
bola que não quis entrar, os caras acharam o gol na única vez que foram no
ataque, talvez o gramado, o excesso de jogos, a altitude...
Tem
profissional de imprensa que sabe que é nessas horas que a sua pergunta pode
reverberar numa resposta que chamará a atenção e poderá até viralizar. Podemos
puxar pela memória muitos embates como o que aconteceu entre Dunga e Escobar,
na Copa de 2010, por exemplo. Treinadores que não aliviavam e até gostavam de
ser taxados como chatos e turrões. É melhor ser temido do que amado, disse o
pensador renascentista Maquiavel. Nesta lista entram fácil: Émerson Leão, Felipão,
Muricy Ramalho e o português Abel Ferreira. Na Paraíba, Maurício Simões e Celso
Teixeira também não facilitavam para a turma do microfone. Às vezes, a culpa do
entrevero era do entrevistado, outras vezes do entrevistador. Nunca chegaremos
a um consenso.
A demissão do agora ex-técnico do Campinense, Luan Carlos, não se deu por causa do bate-boca com o
repórter da rádio CBN. Creio que a gênese de tudo se deu com aquela expulsão e
o gesto indesejado, obsceno, direcionado à torcida do Santa Cruz no Arruda. Teve
aquela derrota difícil de se digerir para o Iguatu, por 3x1, as vitórias
minguadas em casa e o ápice do destempero foi quase pular o fosso para brigar
com meia dúzia de torcedores que ficam próximos do túnel só para protestar. A velha turma do amendoim.
É aí que
reside o problema. O torcedor, só porque paga o ingresso, tem o direito de ir
de encontro à honra dos artistas da bola, através do uso de todos os
impropérios imagináveis? O profissional que ouve, tem que baixar a cabeça e
fingir que não ouviu? Da mesma forma, o técnico, no vestiário, também é livre
para falar cobras e lagartos, para os seus jogadores? Pode acontecer de
um membro da imprensa atrapalhar o ambiente e assim venha a tumultuar a relação com a torcida? É possível. Existem bons e maus profissionais em todas as áreas. O
treinador pode ser que tente justificar a ausência de resultados, culpando os
setoristas e uma possível cobertura tendenciosa, mesmo que inexista? Evidente
que sim.
Para mim, fica
claro que o trabalho no futebol não tem como ser comparado com outras profissões, sobretudo no Brasil. O que importa, no final, é o resultado. Seja ele
proveniente de um treinador que tira leite de pedra, como se diz popularmente,
através de um entregador de camisas, por meio do talento dos próprios jogadores,
por obra do acaso, ou sabe-se lá o quê. O que está faltando não somente na
Série D, mas até na Seleção Brasileira, é controle emocional de todos os envolvidos no espetáculo. Saber se
expressar, escolher as melhores palavras, pode impor respeito até ao opositor
mais ferrenho. Argumento é tudo. Ou quase isso.
Excesso de vontade,
sangue latino, geralmente não joga a favor. Os números do Campinense, no
Campeonato Brasileiro, até que não são tão maus. Está coladinho no g4. Com
doze pontos e quatro partidas em casa, para mim segue a lógica de que vencendo
os jogos como mandante, ou nesta mesma proporção, se classifica para a próxima fase. Seriam necessários mais
nove pontos, para chegar aos vinte e um. Com três compromissos no estádio Amigão. Boa sorte, Luan. É apenas o início de
uma carreira que tem tudo para ser brilhante, talvez. Já a Raposa, com Dico Wooley,
precisa ser diferente daqui para frente. O primeiro teste é contra o Nacional
de Patos, no calor do Sertão, que no inverno fica um pouco mais ameno, calmo,
tranquilo, zen, de boa. Quanto ao destino do jovem Luan, bem que poderia ser o
Vasco da Gama, que conseguiu “convencer” Maurício Barbieri a abandonar a nau.
Será que daria certo? O Gigante da Colina mais do que nunca está precisando do
dedo de um treinador para tentar fugir do inferno da Série B. Segunda divisão,
que para outros seria como um céu de brigadeiro no ano 2009.
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