A NOVA ORDEM BESTIAL

 

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Aplausos, gritinhos frenéticos, pedidos para uma foto de rostinho colado. Isto não aconteceu em uma reunião de fã clube e sim, numa entrevista coletiva em Campina Grande, no Maior São João do Mundo 2023. Primeiro, com Juliette e depois com a cantora Simone Mendes. Perguntas repetidas e previsíveis, com o prévio cuidado para não desagradar a artista.

Tem muita gente credenciada nos eventos, como sendo da imprensa, que só serve para envergonhar uma categoria, que não tem mais onde enfiar a cabeça. No final da década de 2010, houve a desregulamentação da profissão de jornalista, com a não obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão. Ao mesmo tempo em que as redes sociais passaram a ser uma das principais fontes de informação no Brasil. Uma pesquisa realizada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, em 2019, mostrou que 79% dos entrevistados informou que recebe notícias pelo whatsapp.

Com o celular na mão, agora todos são “jornalistas”. Por uma lado, há uma certa positividade nisso. Acaba com o monopólio no acesso à informação em que as pessoas são muitas vezes vítimas da linha editorial das empresas e das escolhas com relação ao que é noticiado, como é passado, com viés político e ideológico ou não. Afinal, não há o que conhecemos como imparcialidade.

Mas, ao mesmo tempo em que este paradigma é quebrado, as notícias falsas encontraram terreno fértil para a sua propagação e disseminação. Para dar mais força ao atual momento de enxurrada de informações e confusão mental - onde um tema relevante e uma bandeira importante são levantados para outros fins -, de forma disfarçada, surge o Projeto de Lei 2630/2020. PL da Censura ou Lei das Fake News? A resposta vai depender se o camarada é de esquerda ou o patriota é de direita.

Tirem os bons profissionais do mercado e substituam-nos por influenciadores digitais. Portais do Instagram, com seus microfones pomposos, exaltam o exterior para esconder o interior oco, vazio e deficiente. Erros de ortografia já não causam mais espanto e agem pela sua frequência, como elo para destruir a formalidade da escrita, construída ao longo dos séculos e até confundir quem não tinha tantas dúvidas acerca de como se escrever corretamente.

Só nos resta montar a barricada da resistência e lutar contra a frivolidade dos néscios, levantados pelo tal sistema, que elege a quem ele quer. Virar o jogo não é uma opção, é questão de tentar sobreviver na selva de pedras prontas para serem atiradas em quem se opuser à nova ordem bestial. Precisamos aplaudir somente os que fizerem por onde merecer tal reconhecimento. Necessitamos inverter a inversão de valores, enquanto ainda há tempo. Se depender dos políticos e do Poder Judiciário, esta guerra já está praticamente perdida.

De nada adiantará gritar “uhuuu”, depois da entrevista, se não formos capazes de corrigir erros históricos de quem realmente manda no país. E isto não é discurso de ódio. É um pouco que ainda nos resta da liberdade de expressão. Não esperemos mudar, enquanto coletividade, mas individualmente. Seremos os nossos próprios informantes e jornalistas, desde que tenhamos discernimento e bagagem para tal.

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