Antigamente, os
jogos na Paraíba seguiam o rígido horário da televisão. Nas quartas-feiras, a
bola rolava às 21h45. Mesmo sem transmissão de nenhum canal de TV. Só as rádios
mesmo, davam conta do recado. Para quem trabalhava no dia seguinte, logo
cedo e para as crianças que estudavam pela manhã, se tornava uma aventura.
Pegar ônibus e chegar em casa meia noite. Pelo menos nos anos 90, não havia nem de longe, a violência de hoje na Rainha da Borborema. Mesmo assim, tinha que ter disposição.
Também não existia terminal de integração. Muitos precisavam pagar duas
passagens para ir e duas para voltar.
Quando o sono apertava e
não dava nem para ouvir a narração pelas ondas hertzianas, o jeito era dormir sem saber o resultado do jogo. No manhã seguinte, antes mesmo do gole de café , a primeira ação do dia era correr para ligar o rádio e escutar o
programa Antena Esportiva, com Joselito Lucena. Nas manchetes, ele já revelava
quem havia vencido e qual time tinha se dado mal. Depois do colégio, na hora do almoço, era a vez
de ver os gols da rodada, narrados por Roberto Hugo, no Globo Esporte. Se perdesse, já
era. Não tinha essa de YouTube para assistir depois.
Já na abertura do
programa, passava aquela vinheta para entrar no clima e havia um momento em que o
jogador dava um voleio. Parecia que a bola transpassaria os limites da TV, com
imagem ainda em preto e branco. Eu dava um pulo no sofá e gritava: defendeu,
Marcial! Este era o nome do arqueiro do Campinense. Goleiro raiz, sem
firulas. Campeão estadual pela Raposa em 1993. Ele já havia jogado no Nacional
de Patos e fora contratado para atuar em Campina Grande, fazendo história no
Rubro-Negro, assim como o seu reserva Hortimar.
Essa relação entre Patos
e Campina, sempre foi muito intensa na minha infância, porque eu tenho
familiares no Sertão da Paraíba. Então, nas férias, foram inúmeras as
viagens, banhos no rio da Fazenda Cruz, futebol ao lado do galinheiro ,no
sítio do meu avô, com os primos e irmãos, além de muitas outras peripécias pueris e bucólicas. Na triste e, ao mesmo tempo, alegre volta para casa, passávamos pelo estádio José Cavalcante. Eu sempre quis
assistir a um jogo do Treze ou Campinense lá na época, mas, nunca aconteceu.
Anos mais tarde, em 2013, até que
enfim adentrei àquela praça de esportes, como repórter da rádio Correio FM de
Campina Grande, para a transmissão de Nacional 0X1 Treze. Gol de Tiago Chulapa. Até hoje, sempre que os maiorais da serra enfrentam os times da morada do Sol, existe aquela atenção especial da minha parte. Afinal, é uma
história que já teve protagonistas como: Carlão, Menon, Chico Bala, Bezerra,
Pitombinha, Roberto Michelle, Rocha, Adelino, Henágio, Neto Surubim, Hermes,
França, Gilmar Lopes, Dinho, Miltinho, Chulapa e tantos outros.
No último domingo (24),
tivemos mais uma vez o Nacional de Patos, campeão estadual de 2007,
enfrentando o hexacampeão Campinense no velho Zé Cavalcante. No primeiro
confronto entre ambos em 2019, a Raposa levou a melhor e venceu de virada no Amigão.
Dessa vez, novos atores mostraram suas qualidades e habilidades para colocarem
os seus nomes na história do clássico. Por que não chamar assim o duelo?
São dois times grandes do estado. De um lado Xabala e do outro, Birungueta.
Novos tempos! Na rodada anterior, o Treze - que segue irreconhecível - perdeu para o
Esporte. Com o placar de 3x1 para a Raposa, pode-se dizer que Campina vence
Patos por 3x1 nessa temporada, até o momento. Nem dá para saber se haverá outro confronto desses esse ano.
Atualmente, com o grito
eloquente de tantas redes sociais e plataformas digitais, já não há mais
como dormir sem saber o resultado do futebol. Só se for por opção. Em tempo
real, se acompanha e após a partida são várias as oportunidades para ver as
imagens e melhores momentos dos jogos. Dá quase para se sentir dentro do
estádio. Quase! Porque só indo mesmo para desfrutar das emoções à flor da pele. Adrenalina ativada de várias formas. Imagino que lá no já modificado e transformado rio da Fazenda Cruz, no bairro
Jatobá, ou no Alto da Tobiba, talvez, através de alguma live, ou site, uma
criança nacionalina estivesse na hora da partida a gritar: "Defendeu
Wagner Coradin! Perdeu, Birungueta”! Tempos modernos, objetivos idênticos.
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