Quatro Velosos em noite de música e afetividade

Roberta Pennafort, O Estado de S.Paulo
04 Outubro 2017 | 02h53
RIO - “Caetano, Moreno, Tom e Zeca Veloso” é um show nascido da vontade do compositor baiano de ser feliz. Assim ele o descreveu antes da estreia, na noite desta terça-feira, no Rio. O que o público viu e ouviu foi um pai em estado de graça com a reunião artística de sua prole, e um repertório que celebra as afetividades familiares, das inevitáveis “Oração ao tempo” e “Boas-vindas” a “Jenipapo absoluto” e “Reconvexo”. 

4 Velosos - Marcos Arcoverde
Caetano toca com os filhos, Moreno, Zeca e Tom Veloso, no show que lança no Teatro Net Rio, em Copacabana, zona sul do Rio.  Foto: Marcos Arcoverde/Estadão
“Ofertório”, composta pelo filho “’arreligioso’, ‘irreligioso’ e até antirreligioso” para a missa celebrada pelos 90 anos da matriarca dos Veloso, Dona Canô (1907-2012), soou talhada para a ocasião: “Toda essa alegria que espalhei e que senti | Trago hoje aqui | Todos estes frutos que aqui juntos vês | Senhor da Vida | Eu em cada um deles e em mim todos os Teus fiéis | Ponho a Teus pés”. 
A plateia do Teatro Net Rio se comoveu ao testemunhar o deleite de Caetano ao intercalar canções de Moreno, Zeca e Tom e seus sucessos: “Beleza pura”, “Gente”, “Trem das cores”, “O leãozinho”, “Força estranha”, “Não me arrependo”. Algumas cantadas só por Caetano, outras com as quatro vozes reunidas, todas com coro efusivo dos fãs. 
Olhares cúmplices, sorrisos provocados por piadas internas e piscadinhas se sucederam. O amor estava no ar. De pé para trocar de cadeira – houve revezamento de instrumentos a noite toda, à exceção de Caetano –, Tom sapecou um cheiro no cangote de Caetano. O pai, sem modéstia, falou com orgulho dos meninos compositores. “É bonita pra caramba, né. Muito sofisticada, muito boa”, comentou, depois de Moreno cantar “De tentar voltar”, dele e de Domenico Lancellotti. “Essa é curtinha, mas é linda, né. Vai longe”, elogiou “Sertão”, parceria sua com Moreno que Gal Costa gravou.
O único que ainda não assumiu a música profissionalmente, Zeca (piano elétrico, guitarra, violão) mostrou as suas “Todo homem” e “Você me deu”. Moreno (pandeiro, violão, cello, prato), “Um passo atrás”, “How beautiful could a being me”, “Um canto de afoxé para o bloco do Ilê” – com Tom fazendo graça ao imitar a voz de criança do irmão quando do lançamento da música, em 1982 (à época, o primogênito tinha 9 anos). Tom (violão), o caçula, que compõe mas não canta em sua banda, a Dônica, disse não ser cantor, mas acabou  apresentando “Um só lugar”, que compôs com Cézar Mendes e foi lançada por Roberta Sá. 
“Alexandrino”, um funk com o qual Caetano fez graça, serviu a um esboço de passinho de Tom. O clima carinhoso perdurou até o bis, com “Canto do povo de um lugar”, “Um Tom” e “Está escrito”, sucesso do grupo Revelação. Caetano mandou então que Zeca, o único dos quatro nascido no Rio, sambasse – ele deixou a vergonha de lado e bem que tentou atender ao pai.

Comentários