Recrutando mulheres em prol da sustentabilidade

ESTADÃO

POR ALINA TUGEND


A relação entre as mudanças climáticas e os direitos das mulheres pode parecer algo confuso para alguns.
Mas para Zandile Gumede, a primeira prefeita de Durban, África do Sul, as duas coisas estão intrincadamente unidas. Foi eleita no ano passado em parte por prometer tratar dos problemas do meio ambiente na região, e, segundo ela, a contratação de mais mulheres nessa iniciativa é fundamental.
Mulheres são mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas, mas é menos provável que tenham formação científica ou estejam representadas em comitês que tomam decisões sobre sustentabilidade, explica Gumede, 55. Por isso, seu governo realiza parcerias com algumas universidades para garantir que um número maior de mulheres siga a carreira científica.
Durban, uma das maiores cidades da África do Sul, está às voltas, como aliás os demais municípios, com uma das piores secas de sua história. O aumento da urbanização e da industrialização, a poluição provocada pelo tráfego de caminhões entrando e saindo do porto, o maior do país, e a contaminação dos cursos de água exacerbam uma crise ambiental de proporções crescentes.
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A prefeita Zandile Gumede de Durban, África do Sul, afirma que “as mudanças climáticas são uma questão diária” para as mulheres da cidade (Brendan McDermid/Reuters)
“A mudança climática é uma questão diária para nós”, afirma. “E as mulheres precisam estar envolvidas em tudo”.
Como o clima é um fenômeno que afeta todas as pessoas, a ideia de que mulheres são mais suscetíveis aos efeitos da mudança climática pode ser considerada estranha por alguns. Entretanto, são as mulheres que costumam buscar água, alimentos e lenha para cozinhar e preparar as refeições - e, portanto, sentem mais profundamente a carga da mudança extrema do clima, o desaparecimento dos recursos hídricos e a degradação do solo, segundo afirma um relatório da ONU de 2009. As mulheres também constituem uma grande parte da força no trabalho agrícola em muitas nações em desenvolvimento.
A pesquisa mostra ainda que quando os recursos são escassos, as mulheres muitas vezes cedem o próprio alimento aos maridos e filhos, numa atitude abnegada com as filhas. E quando a poluição do ar provoca surtos de doenças como a asma, é típico da mãe ficar em casa para cuidar dos filhos doentes, reduzindo sua produtividade e suas chances de avançar em uma carreira.
Como sinal do crescente reconhecimento da relação entre os direitos das mulheres e as mudanças climáticas, a primeira conferência C40 Women4Climate foi realizada em Manhattan, reunindo prefeitas do mundo inteiro em março. A C40Cidades é uma organização guarda-chuva que abarca mais de 90 cidades preocupadas em buscar soluções para as mudanças climáticas.
Prefeituras são mais ágeis do que Estados e governos centrais, e podem atuar mais rapidamente na implementação de soluções ambientais criativas — por exemplo, a limitação do trânsito em algumas ruas do centro para uso exclusivo de pedestres, como feito recentemente em Paris e Nova York.
“As cidades produzem 70% dos gases do efeito estufa”, afirma Anne Hidalgo, prefeita de Paris e presidente do C40. “Prefeitos são pessoas muito pragmáticas. Nós somos pessoas muito concretas. No governo, às vezes, você está distante da realidade, mas nós estamos perto de tudo, e esta é a nossa força”.
Além disso, as cidades têm mais condições de unir a defesa do meio ambiente à atividade cívica, fala Helen Fernández, prefeita de Caracas, Venezuela, acrescentando que as mulheres de sua cidade “tomaram as iniciativas e estão na linha de frente da luta”.
A relação entre as mudanças climáticas e o gênero também diz respeito a assegurar que mulheres desempenhem um papel crucial na compilação da agenda internacional. Por exemplo, com o histórico Acordo de Paris, as mulheres trabalharam “no mais alto nível e tiveram funções muito importantes”, diz a prefeita de Paris. “Quando homens e mulheres unem experiências muito diferentes, o resultado é sempre bom; nós fazemos coisas mais abertas do que quando os homens trabalham sozinhos.”

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