CABELO DE FOGO 3X1 GATO PRETO



Eu poderia apontar apenas os defeitos, falhas e improvisos que qualquer um, por leigo que seja, identifica facilmente ao acompanhar uma partida de futebol da Série B do Campeonato Paraibano. Ao invés disso, preferi enxergar o lado bom do espetáculo. Em primeiro lugar, para mim, não há um programa mais prazeroso, num domingo à tarde em Campina Grande, do que ir ao velho estádio Ernani Sátyro - o Amigão, carinhosamente apelidado de "Colosso da Borborema", pelo saudoso narrador Joselito Lucena. 

Apesar do gramado castigado e das sucessivas reformas, que não mudam em quase nada a aparência daquele patrimônio histórico, é indescritível a sensação de ver o sol se por, diante de olhos extasiados ou frustrados, pelas emoções proporcionadas aos seus fiéis espectadores. Até o arco de Deus, conhecido como arco-iris, parece ser mais colorido por trás da geral, servindo de referência para as decolagens do aeroporto João Suassuna.

Mas, o jogo em questão era Serrano e Lucena. Quase nenhuma torcida nas arquibancadas, (22 pagantes) faz com que todo o diálogo seja reverberado em ecos repetitivos. Logo no aquecimento dos goleiros do Lucena, percebi algo que me chamou a atenção. Os arqueiros eram muito jovens, aparentavam ter entre 16 e 17 anos. O titular, Gato Preto, soltou uma bola chutada pelo preparador, que já mostrava a insegurança de quem não escondia a tensão no olhar. 

Com a pelota rolando, jogo pegado e boas investidas de ambos os lados, porém com maior predomínio e posse de bola do Tubarão, como é também conhecido o time do litoral paraibano. E o equilíbrio se deu até os 42 minutos do primeiro tempo, quando num lance despretensioso, Gato Preto "bateu roupa", como diriam os narradores antigos, e o experiente Izaias abriu o marcador no Amigão.

Da arquibancada, o pai do artilheiro do jogo, o ex-jogador Gabriel Cabelo de Fogo, era um dos mais agitados. Cumprindo sua tarefa de auxiliar técnico, do também ex-atleta do Campinense, Betão, Gabriel não poupava ninguém de suas palavras de incentivo, recheadas de xingamentos, que no futebol servem para acordar o time. Mas voltando ao gol, o que aconteceu após o balançar das redes foi algo curioso e preocupante. Do nada, Gato Preto foi ao solo, alegou uma contusão na mão, mesmo sem que tivesse havido um choque contra o adversário no lance capital e foi substituído. 

Também da arquibancada sombra, o presidente do Lucena, Domício Leite, aos berros mandava o menino ir para o vestiário. "Manda descer. Ele não sabe que jogador substituído não pode ficar no banco"? E eu que pensava que somente após a expulsão o atleta precisaria ir para o chuveiro mais cedo.

Enfim, Gato Preto saiu, humilhado, cabisbaixo e o seu futuro na profissão é incerto. Lançado entre os leões, o jovem jogador cometeu o pecado de falhar - algo que é comum e inerente ao ser humano. Se ele resolver continuar, certamente um dia lembrará daquela tarde infeliz e isso poderá servir de motivação em sua caminhada. Pode ser até que ele prefira mudar de nome, após tomar o gol, da forma que foi, do filho do Cabelo de Fogo. De todo jeito, anotem esse nome: Gato Preto. Quem sabe um dia ele brilhe pelos campos do Brasil. 

Serrano 3x1 Lucena. Decidi aproveitar aqueles momentos, para respirar mais uma vez os ares medicinais do Amigão, porque Treze e Campinense resolveram se ausentar antes do tempo, em 2016. Sendo assim, nos resta esperar o que há de vir no ano que vem com a primeira divisão do Paraibano e saber quais serão os felizardos que ascenderão à condição de rivais dos poderosos maiorais da serra, com direito até a jogar com o Botafogo, aspirante à Série B do Brasileiro. 

Distraí-me tanto com o bom futebol desse domingo (11), que esqueci de alguns acontecimentos. O jogo que estava marcado para às 15h15, só foi começar por volta das 15h30. Ambulância, tinha. Mas a polícia chegou uns dez minutos depois do pontapé inicial. Jogadores do Lucena, uns quatro ou cinco , chegaram de última hora, faltando poucos minutos para começar e correram para o vestiário. Ah! Não tinha gandula. Eu mesmo peguei umas duas bolas. Independentemente disso, ainda prefiro ir ao Ernani Sátyro domingo à tarde, do que ter de assistir Cruzeiro x Botafogo na TV. Dias melhores para o futebol da Paraíba e para Gato Preto, é o que esperamos.









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