Um carro parou no sinal, no final de uma tarde ensolarada.
Os segundos enfadonhos para o motorista também são preciosos para outros
personagens. Com a campanha política à flor da pele, aparecem novos
concorrentes para os artistas de rua e vendedores de ocasião.
Tenho experiência em vendas e sei como o êxito com um
cliente pode originar uma sensação prazerosa. Eu havia terminado minha
caminhada no Açude Velho e ao atravessar a rua, vi quando uma mulher
aparentando uns vinte e oito anos, se aproximou de um carro importado com placa
do Recife.
Após breve conversa, uma nota de cinco reais foi sacada e o
livro vendido. Olhei de relance e vi que o compêndio abordava algo sobre o
estilo de vida vegetariano. O que me surpreendeu e, de certa forma emocionou,
foi a felicidade e o brilho no olhar da vendedora, após
a venda, direcionado a seu acompanhante ,marido, namorado, ou colega de
trabalho, ufa... Não sei. O cara que estava a poucos metros dela, também
vendendo.
Segundos depois, o motorista a chama. Ela vai correndo e
volta dessa vez , com um sorriso meio amarelo. Pode ser que o dono do carrão
tenha tentado fazer uma boa ação. Talvez a margem de lucro da moça
pudesse realmente aumentar com aquele gesto. Mas , como vendedor que sou,
senti fraqueza e desprezo na atitude do homem.
Já perdi as contas das vezes em que comprei e provei bala de
gengibre no ônibus, mesmo sem gostar. A capacidade de persuasão do perito em
vendas supera um gesto de piedade e comiseração. O livro não deveria ter sido
devolvido, pois haverá sempre espaço numa biblioteca, onde leitores
interessados no assunto, darão a ele a devida atenção.
basilio-neto@hotmail.com
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