GALO ENGOLE PAPÃO

Antes de adentrar ao gramado, uma menina - aparentando uns 10 anos - devidamente uniformizada com as cores do seu time do coração, me presenteia com um belo sorriso e me cumprimenta como se fôssemos conhecidos de longas primaveras. Alguns passos à frente, o visitante e ex-anfitrião, Vica, é "homenageado" com aquele famoso coro, o qual Renato Gaúcho teve de ouvir inúmeras vezes no Maracanã: Vica, v...ado; Vica, v...ado... No mesmo instante olhei para o treinador para saber qual seria a sua reação. Para minha surpresa e sorriso interior, um jogador reserva do Paysandu caíra na gargalhada, andando ao lado do comandante que também achou graça da situação e levou na esportiva.

A proximidade existente entre o alambrado e o gramado proporciona momentos dos quais as principais arenas da Copa sentem inveja. Os jogadores ouvem a tudo, mas o profissionalismo e a concentração do calor da partida, não permitem uma olhadela sequer, somente na hora do êxtase do grande momento do futebol. Outro dia, um torcedor abusado teve a empáfia de pedir para que eu me afastasse um pouco, porque para ele eu estava atrapalhando a sua visão. Quando ele me ouviu dizer que fosse lá pra arquibancada , se exaltou e tome palavrão. Teve um tempo em que xingamento nos estádios da Paraíba, poderiam resultar em punição. "Bons" tempos, aqueles... Volta, tia! Ops, é melhor não.

No final, festa e euforia, numa atuação digna de um time que quer fugir da zona e alcançar o grupo dos salvos. Givanildo ovacionado, foi quase canonizado. Para ele, apenas palavras de apoio e reconhecimento. Após tantos anos no futebol, como será que o experiente comandante recebe os gritos de uma torcida que clama por ele em plena batalha? Um aceno tímido e contido de retribuição mostra a cautela de quem entende, como ninguém, que enquanto os resultados continuarem a aparecer, os elogios irão se multiplicar. No país do 7x1, todos sabem que quando um time é bom, não precisa fazer nenhuma força sobrenatural para vencer. Quando os setores estão bem abastecidos de material humano e a disciplina tática é aliada ao talento individual, tudo flui naturalmente como um sorriso de uma criança.

Na euforia incontrolável da plateia, ouço uma voz que me chama do meio da torcida. Quem poderia ser senão o famoso Eduardo, conhecido pela estranha alcunha de "Engole Cobra". Ele ainda se orgulha de ter recebido este apelido do ex-atacante do Treze, Beto. O cara é reconhecido como o maior perturbador da paz alheia em programas de rádio e tevê de Campina Grande. Para fazê-lo sentir-se prestigiado, resolvo entrevistá-lo e ele faz jus ao seu nome de guerra mandando um: "Oi JCC, queridoooo, se cuida tá"?... Depois, ele e os outros milhares de torcedores voltam a cantar: - Tem que ter, tem que ter, o Galo na Série B. Este ano, o algoz argentino de 2013, fez questão de jogar pelo rival da capital. O equilíbrio, mais uma vez, salta aos olhos nesta Série C. A Segunda e a Quarta estão mais próximas do que se possa imaginar , como na linha tênue que separa o amor do ódio; o aplauso da vaia; o elogio do xingamento; o penta, da vergonha; o Ariano de um Adriano...




Engole Cobra em ação no PV...



(Fotos: Basílio Neto)

FICHA TÉCNICA

Estádio Presidente Vargas, 27/07/2014, Série C Campeonato Brasileiro.

Treze 3x0 Paysandu

Arbitragem: Cláudio Francisco de Lima (SE)
Ivaney Alves Lima (SE)
Aílton Farias da Silva (SE)

Gols: Rafael Oliveira, Bruno Aquino e Rafael Oliveira.

Cartões amarelos: Yago Pikachu, Marcos Paraná, Bruno Aquino.
Cartões vermelhos: Everton Silva, Aírton.

PAYSANDU: Douglas, Everton Silva, Charles, Reniê, Airton, Ricardo Capanema, Yago Pikachu, Zé Antonio, Rafael Tavares (Raul), Ruan, Marcos Paraná (Gabriel Barcos). Técnico Vica.

TREZE: Gílson, Osmar, Alison, Pity, Fernandes, Sapé, Alan Bahia, Jonathan (Birungueta), Luciano, Rafael Oliveira (Leandrinho). Técnico Givanildo Oliveira.

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