PAOLA


- Soubesse que Paola viajou ?
- Pois é rapaz. Me disseram.
- Ele esteve aqui minutos antes...

Paola vivia cantando músicas que ninguém conhecia. Talvez, inventadas por ele mesmo. Não obstante as dificuldades da vida, ele parecia pouco se importar com a sorte. Tinha o chão como colchão, a aparência descuidada, porém sem ter o "perfume" comum aos moradores de rua. Pode-se dizer que ele nem fedia nem cheirava. Fora preso um dia desses. Para as más línguas (sempre presentes) ele teria feito a festa dos apenados. Voltou de lá, rosado e sempre cantarolando uma canção inédita. Acompanhado de um menor, ele - ou ela - que aparentava uns 30 e poucos anos de idade, procurava se desvencilhar dos perigos das ruas. Envolvido em pequenos delitos, ao que parece não tinha em mente investir na vida bandida. Ele queria apenas cantar e satisfazer os desejos diários e urgentes do seu estômago. Será que fazia uso de entorpecentes?  Acredito que sim. Porém, não demonstrava agressividade.

Na manhã de um sábado, as marcas de sangue no chão e na parede do INSS, evidenciavam, como uma inscrição rupestre ,que algo de grave havia acontecido. Era o DNA de Paola.

- Levou uma facada no pescoço. Morreu. A notícia logo se espalhou. 

         Por incrível que possa parecer, as pessoas se importaram. Talvez lembrassem com um nó na garganta de quem, mesmo com tantas adversidades, insistia em cantar uma alegria inexistente. Paola não era santa, mas agora fazia falta.

         O flanelinha da esquina já sabia. Outro morador de rua também. Ao serem questionados se conheciam os autores do crime, o olhar viajava e a boca negava. Pobre Paola. Deve ter sido enterrado como indigente. Será que tinha família, mãe, pai? Ou seria filho de Guaiamum? Passaram os dias e a cena do crime permanecia inalterada: um chinelo de dedo bem no meio da poça, agora seca pelo sol inclemente.

A postagem no blog deveria ter sido publicada no dia seguinte ao ocorrido. Mas, e se ele não tivesse morrido? Não havia a prova cabal, apenas o relato de populares e as marcas de sangue. É preciso checar, procurar maiores informações sobre o ocorrido. Deixa para lá... Não vai dar “IBOPE”.

UMA SEMANA DEPOIS....

- E aí Tenório tudo bem?
- Tudo em paz.
- E Paola hein?
- Rapaz, chega tá corado. Esteve aqui em casa ontem. Disse que vai pro Rio de Janeiro. Não aguenta mais a violência de Campina Grande. A facada foi nas costas. Ele ficou internado no Hospital de Trauma, mas já tá novinho em folha. 

Que bom e que pena! Não ouviremos mais aquelas melodias feitas na hora, de quem aprendeu a viver com poucos recursos e sem a segurança de um lar. Quem diria que um dia o caminho inverso seria feito? Fugir de Campina Grande, em busca de segurança no Rio de Janeiro.... Boa sorte, Paola. Agora sim! Ele viajou.







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