O consagrado ator e
diretor Clint Eastwood conseguiu reproduzir dois pontos de vista distintos
através dos filmes “A Conquista da Honra” e “Cartas de Iwo Jima”, ambos
filmados em 2006. Os longas-metragens abordam o conflito entre Japão e Estados
Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial. Assim como na sétima arte, o futebol
também precisa ser sempre analisado a partir de dois ângulos diferentes. Por
exemplo, como faremos para avaliar a final do Campeonato Paraibano de 2013, em
que Treze e Botafogo se “digladiaram”, cada qual em busca de fincar a bandeira
no território inimigo?
Por ser de Campina Grande,
o natural seria que eu elencasse uma série de fatores que fizeram com que o
Treze viesse a deixar escapar um título tão previsível. Aliás, me preocupa
muito o velho conhecido bairrismo, também cultivado dentro da imprensa
paraibana. Tudo bem que os torcedores podem se xingar no estádio, no twitter,
com aquela provocação nem sempre sadia e às vezes irritante, mas os meios de
comunicação não deveriam seguir esta tendência. Infelizmente, em Campina Grande
ainda há muito disso e em João Pessoa, também.
Analisemos, portanto, o
lado do Treze nesta real ficção. O Galo começou o campeonato “dando pro gasto”,
com o treinador Sérgio Cosme. Depois da derrota para o Botafogo por 4x3, no
Amigão e outros tropeços, Lorival Santos assume o time. Com o seu jeito estranho
e meio fechado, começou bem, mas derrapou nas rodadas seguintes e rua. Vica chega,
pega um time desacreditado, mete 4x0 no Campinense e coloca as coisas nos
eixos. A equipe evoluiu bastante e de um time desacreditado, passou a ser um
potencial favorito ao título, após eliminar o campeão do Nordeste. A Raposa se
despediu do Paraibano 2013 e saiu amaldiçoando o regulamento, assinado pelo
próprio time no início do ano.
A reclamação dos raposeiros era uma só, após a desclassificação precoce: “Esse time do Treze só joga atrás, com onze homens na defesa”. O treinador alvinegro deixou bem claro que jogar feio faz parte e o importante é vencer. Então, o Galo vai lá no Almeidão e vence o Botafogo, na primeira final, por 1x0. Pronto. Morreu Maria Preá. Quem é que vai duvidar de um time que cresceu tanto durante a competição, a ponto de eliminar o todo poderoso Campinense e vencer o Belo fora de casa na primeira decisão? Poucas pessoas , em sã consciência. O time de Campina Grande ainda tinha a vantagem de decidir no Amigão , podendo perder por um gol de diferença. Mas a caixinha de surpresas é o futebol.
Do outro lado havia um
gigante bocejando, pronto para acordar e um tabu incomodando o juízo de todos
na maravilha do contorno. Marcelo Vilar, Genivaldo e Warley encabeçavam a lista
dos líderes que profetizavam o título a todo custo, diante da torcida. Enfim, existia um clima de indefinição no ar, naquele feriado de Corpus Christi. A
torcida do Treze quase lotou os espaços a ela reservados no Amigão e teve a
companhia dos visitantes pessoenses, que cantavam , vibravam e chegavam a
desafiar a maioria presente com tamanha empolgação. Na retaguarda, Genivaldo
vibrava com o peso nas costas de ser um ídolo, até então, sem títulos pelo
Botafogo. Radialistas pessoenses, atrás da trave, queriam entrar em campo,
ajudar, fazer parte daquele momento histórico. A vontade que foi vista nos
jogadores do Treze diante do Campinense, agora estava do lado do Belo.
Vibração, garra, dedicação. Tudo valia naquele momento.
O Treze começou a
sucumbir, quando perdeu o seu guerreiro e artilheiro Tiago Chulapa, que saiu machucado.
Quase metade do segundo tempo havia sido consumida, quando os gols do Botafogo
anunciaram que daquela guerra os visitantes não sairiam sem triunfo. E assim
aconteceu. Como um personagem de desenho animado que ganha força após tomar uma
poção mágica e depois de um tempo, esta perde o efeito, assim foi o Treze. O
Galo voltava a ser o time debilitado e frágil do início da competição, naqueles
poucos minutos antes do fim. O Botafogo trouxe de volta aquele futebol bonito
do começo do certame, que havia sido ofuscado pelo mau desempenho na segunda
fase, tendo o seu ápice com a goleada sofrida para o Campinense por 4x1, no
Almeidão.
Assim como
aconteceu na Batalha de Iwo Jima, o visitante mostrou o seu maior poder de fogo
e uma estratégia bem definida. Com soldados e comandantes experientes, provaram
o sabor da vitória que há nove anos era esperada por uma Nação. O campeão voltou e a
luta continua. Quanto ao Treze, resta lembrar que o ano ainda não acabou. Ainda
há tempo de batalhar pela conquista da honra, na Série C. Dá-lhe Clint.
@basilioneto98
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