Numa noite qualquer do ano
2009, por alguns instantes tive de me espremer na fila, do lado de fora do
estádio “Amigão”, para poder migrar para o tão sonhado lado de dentro. Eu ainda
não tinha credencial e em jogos de Treze e Campinense a saída era aproveitar
meus últimos momentos como torcedor. Foi quando avistei “Seu Jaime”. Um senhor de
cabelos brancos, olhar calmo, sereno, na casa dos setenta e tantos anos. Nas
primeiras onze primaveras de minha vida, fui quase vizinho daquele cidadão. Ele
morava numa rua e eu em outra, paralela à dele.
O fato é que eu nunca o
havia visto indo ao estádio para acompanhar o seu time do coração “in loco”.
Mas aquele não era um momento qualquer. Era a grande e esperada estreia do
Campinense na Série B do Campeonato Brasileiro. O adversário? O Duque de Caxias,
companheiro de acesso no ano anterior. Era aquele típico coadjuvante que
provavelmente não iria dificultar a lua de mel do anfitrião com a sua torcida.
O velho Jaime vibrou com o gol do time da casa logo no início, mas
o fardo de uma segunda divisão ao que parece, pesou ao estreante em êxtase. A
virada ofuscou um pouco a inesperada visita daquele torcedor fiel, que assim
como o cometa Halley, só aparece em ocasiões como aquelas: especiais. Depois
daquele dia, não mais avistei aquele senhor de cabelos grisalhos em dias de
jogo no “Amigão”.
Quatro anos depois,
fazendo aquele tradicional cooper pelas ruas da cidade, eis que decido por um
percurso que passava justamente na rua em que eu fui criado. Muitas mudanças
feitas pelo progresso da urbanização, mas os ares eram os mesmos. Lembranças da
infância foram inevitáveis. Onde antes havia apenas o nada, agora existe um
caminho que serve para a caminhada dos moradores locais. Passei no trote e
avistei aquele senhor de boné, com passos firmes vindo ao meu encontro.Não hesitei e o
cumprimentei, mesmo sabendo que provavelmente não seria reconhecido, devido às metamorfoses
provocadas pelo tempo.
-
Seu Jaime, tudo bom?
- Tudo.
- Não foi mais à campo, ver a
Raposa feroz?
- Faz tempo que fui, mas este time
que está aí parece que é bom, viu. É líder do seu grupo no Nordestão, já deu no
CRB duas vezes, no temido Santa Cruz. Agora sim, parece que montaram um time
confiável e com um treinador que fala pouco e trabalha muito. E tem um tal de
Panda, Andrezinho, Zé Paulo, Bismarck, Selmir. Dos velhos mesmo só resta
Pantera...
Pelo visto, o Campinense de 2013, parece que conquistou novamente
o coração do velho raposeiro. A torcida está animada diante do que os seus
olhos vêem e sonha em conquistar uma taça inédita, que representaria a
reinserção da Raposa, no hall dos principais times do Nordeste. O velho Jaime, igual
a um menino, se empolga a cada ano com as primeiras vitórias. Mas assim como em
um período de seca, as primeiras chuvas, vão aos poucos mostrando se o ano será ou
não bom de inverno. Quem sabe se o nosso personagem, não está planejando sua
volta triunfal ao Amigão numa eventual estreia do Campinense na Série D. Há
ainda um longo caminho pela frente.
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