Por onde ele passa, as
pessoas o cumprimentam. Anda dez, quinze metros, e alguém acena:
- Tião, tudo bem?
Outro fala:
- Mas rapaz, que música
bonita aquela que você tocou hoje. E aquela piada? Eu ri demais...
No centro de Campina
Grande ou na Feira Central, onde geralmente Tião está aos sábados pela manhã,
tomando café no bar de Dona Giovana, é impossível passar despercebido.
Vendedor ambulante, vereador, empresário, flanelinha, taxista, morador de rua, para cada um tem até
as frases feitas, ou como ele próprio denomina de “pulhas”.
A verdade é que Tião Lima
é uma figura bastante querida em Campina Grande. O seu carisma é fruto da
relação com o público ouvinte, que se acostumou a acordar com o grito, quase
sempre empolgado de Tião nas rádios da Rainha da Borborema. Digo quase sempre,
porque Tião é tão autêntico e espontâneo, que quando está com um problema,
principalmente com os clientes inadimplentes, não sabe fingir. Em tom de
brincadeira, misturado com seriedade, não hesita e brada em alta voz:
“Quem tiver me devendo,
pode cuidar em me pagar”.
E os ouvintes adoram essas
tiradas, que geralmente surtem efeito com os devedores, os quais rapidamente
procuram quitar os seus débitos.
Sebastião Basílio de Lima,
conhecido por Tião Lima, nasceu no sítio Arvoredo, na zona rural de Patos-PB.
Filho de agricultores, desde cedo, teve de trabalhar no roçado, plantando e
colhendo algodão, feijão, melancia e etc. A escola mais próxima ficava a doze
quilômetros de sua casa, mas nada capaz de desanimá-lo. Com catorze anos de
idade, começou a colocar o seu lado artístico para fora. Influenciado por
parentes, aprendeu a tocar viola e desenvolveu o dom da poesia de improviso. Lá
estava ele: Sebastião, o mais novo cantador do sertão. Mas ele nem pensou que
iria se livrar assim, tão rápido, das atividades no campo. Continuou a
trabalhar e dar os primeiros passos na cantoria de repente.
Naquele tempo, o cantador
tinha status de pop star. Hoje, Tião lembra daquela época, de poucas
oportunidades e momentos difíceis ao lado dos nove irmãos:
“Eu penso alto, nunca
pensei pequeno”.
Por meio das cantorias, abandonou a vida de
agricultor. Começou no mesmo tempo dos poetas Severino Feitosa, Fenelon Dantas
e outros. “Era a época do auge da cantoria”, revelou Tião. Viajou para o Ceará
e outros estados, com a viola no braço. Aos 23 anos já ganhava o seu
dinheirinho e não sentia saudades da roça. Mesmo despertando este lado poético,
Tião Lima sempre foi um apaixonado por rádio. Anos mais tarde ele viria a se
entregar de vez a esse veículo de comunicação, onde além de trabalhar, também
se diverte e se realiza profissionalmente.
Em 1977, casa-se com Maria
do Socorro Silva Lucena, natural de São Mamede, com quem teve três filhos:
Giovani Montinni, Astier Basílio e Basílio Neto. Como a responsabilidade, havia
chegado junto com o casamento, Sebastião teve de se desdobrar para fazer a
feira, sustentar os meninos e pagar as contas. Então eis que surge uma
oportunidade na construção civil. O emprego? Apontador. Ele não pensou duas
vezes e aceitou o desafio. Logo em seguida, após um curso técnico, chegaria a
ser fiscal de obras. Teve de sair de Patos, por causa da nova ocupação e foi
morar em Vitória de Santo Antão - PE, em seguida, Areia, Alagoa Grande e finalmente
Campina Grande. Na Rainha da Borborema é que a história de Tião e o Rádio se
consolidam. O namoro entre os dois havia começado em Patos, com pequenas
participações na Rádio Espinharas, mas em Campina Grande é que a coisa ficou
mais séria.
Tião Lima, agora estava
casado, longe de sua terra natal e com três filhos para criar. Na época em
que o Brasil estava numa situação econômica muito difícil, sem estabilidade e
com a inflação nas alturas, o jeito foi fazer malabarismo, para dar conta das
prestações e ainda colocar os filhos para estudar em colégio particular. Não
seja por isso. O nosso super herói ,Tião Lima, passou a acumular várias funções: fiscal de obras da CEHAP (Companhia Estadual de Habitação Popular) onde ainda
trabalha, repentista, fotógrafo e radialista.
Mas a história no rádio,
fica para o final, porque como fotógrafo, Tião ganhou dinheiro, num tempo em
que fotografia valia “ouro”. Poucos dominavam a arte. Não é como hoje, época da
câmera digital, tablets e celulares "faz-tudo". Tinha de ter habilidade para ser um
bom retratista. E lá ia Sebastião: cobrir as festas, quadrilhas,
casamentos, batizados, sempre ao lado da esposa Dona Socorro e os filhos, que também
ajudavam,às vezes, atrapalhavam noutras...
O nome artístico Tião
Lima surgiu entre 1985 e 1986: “Sou muito ruim para decorar datas”, revelou. Tudo aconteceu através de Luís Aguiar ,que era diretor dos Diários Associados. Aguiar
o ouviu cantar em um programa de rádio e disse que estava precisando de
locutor. Na época, José Bezerra comandava o "Bom dia Nordeste" na Rádio
Borborema e se recusou a apresentar o programa no horário de verão. O que era
de 05:00 às 06:00 iria ser de 04:00 às 05:00. Tião então disse: "Deixa comigo, é
a minha chance".
O problema não era
apresentar o programa, mas ter de sair do conjunto Severino Cabral,onde
morava,distante da Rádio algo em torno de doze quilômetros, mesma distância que
ele enfrentava para ter de estudar em Patos, quando criança. Isto, antes das quatro horas da manhã, sem ter um meio de transporte.Saía cedo de casa, a pé, para pegar o
primeiro ônibus ou tentar uma carona.
“Qualquer pessoa na vida vence por meio do trabalho. É através do trabalho que se alcança os seus objetivos”, declarou. Então, Luis Aguiar ouviu o primeiro programa e disse: “Pronto! É assim mesmo que se faz. Você é doido e eu também sou. Vai dar certo. Você não vai pagar nada pelo horário, o que você vender (publicidade) é seu”. Então os dias foram se sucedendo e Tião vinha sempre prevenido, de madrugada, com uma faca, para se proteger dos “bandidos”. Foi juntando um dinheirinho, comprou um fusquinha azul 1973, depois passou para um Chevette verde e as coisas iam melhorando.
“Qualquer pessoa na vida vence por meio do trabalho. É através do trabalho que se alcança os seus objetivos”, declarou. Então, Luis Aguiar ouviu o primeiro programa e disse: “Pronto! É assim mesmo que se faz. Você é doido e eu também sou. Vai dar certo. Você não vai pagar nada pelo horário, o que você vender (publicidade) é seu”. Então os dias foram se sucedendo e Tião vinha sempre prevenido, de madrugada, com uma faca, para se proteger dos “bandidos”. Foi juntando um dinheirinho, comprou um fusquinha azul 1973, depois passou para um Chevette verde e as coisas iam melhorando.
E assim o tempo foi
passando, as crianças crescendo e já chegaram dois netos: Giovana e Andrei, fruto das uniões de seus filhos (Basílio e Giovani) com suas "genras" Isabele e Yara.
Hoje, Tião Lima é presidente da Associação de Repentistas e Poetas Nordestinos (Casa
do Poeta), funcionário público estadual da CEHAP, apresenta o Programa Bom dia
Nordeste na Rádio Panorâmica FM, de segunda à sábado – 04:00 às 06:00 da manhã
e também está de segunda à sexta na Rádio Cidade AM, das 15:30 às 17:00, com o
Programa Matutos na Cidade.

Ao pedir que Tião contasse
uma história inusitada que aconteceu durante estes 25 anos de rádio, ele demora
um pouco e lembra:
“Um dia eu estava apresentando o programa na Rádio Borborema, cinco da manhã e recebi uma visita inesperada. Ele entrou no estúdio, me cumprimentou e pediu para descansar um pouco. Dormiu cerca de uma hora, depois agradeceu e foi embora. Tratava-se do então prefeito de Campina Grande Cássio Cunha Lima. Acho que ele subiu, talvez por estar fugindo de algum babão, ou de alguém que estava pedindo alguma coisa (risos).
Tião Lima não é muito adepto dos bordões, mas por muito tempo, ele encerrou o programa na Rádio Borborema com a seguinte frase: "A vida só é dura pra quem é mole, magote de co...

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