A HORA DOS MISERÁVEIS NA COPA DE 2014

Mobilizações sociais pela não realização de Copas do Mundo e Olimpíadas, sempre acontecem pelo mundo afora. Mas, os protestos nunca são capazes de impedir que estes mega eventos aconteçam. Nas redes sociais, muitos curtem, compartilham e retuítam mensagens de protesto que denunciam os rios de dinheiro gastos com a reforma e construção de estádios, enquanto a transposição do rio São Francisco ainda não se tornou realidade. Aliás, a classe política ,historicamente, nunca quis resolver de verdade, o problema da seca no Nordeste. É só lembrar que em 2011, a calamidade foi decretada pela enchente e no ano seguinte, por causa da seca.

 
Entretanto, fizesse chuva ou sol, em meados da década de 1990 (mais precisamente em 1997), eu dava as minhas fugidinhas de adolescente. Isto mesmo. Saía do Colégio Estadual da Prata e ia prestigiar aqueles tradicionais jogos de quarta-feira à tarde no estádio Presidente Vargas. O velho PV não tinha refletores e algumas partidas do Campeonato Paraibano tinham de ser à tarde mesmo. Como todo estudante que se preze, eu também era "liso". Então, o jeito era apelar para a hora dos miseráveis. Faltando quinze ou vinte minutos para o jogo acabar, os portões eram abertos. Isto acontecia, não para os pirangueiros assistirem de graça, mas para que quem quisesse sair mais cedo, pudesse evadir-se do local.

Só sei que era muito bom. Independente do placar final. Poder prestigiar o nosso querido futebol paraibano e ainda sem comprar ingresso, era uma sensação que dinheiro nenhum poderia pagar. Naquela época, a forma de disputa de nosso certame era a mais simples e sensata possível. Dois turnos, com jogos de ida e volta. Em cada turno, os quatro primeiros faziam as semifinais e finais. O campeão do primeiro enfrentaria o vencedor do segundo. Se o mesmo time vencesse as duas fases, seria campeão direto.

Então eu me pergunto; será que teremos a hora dos miseráveis na Copa do Mundo? Ou talvez o bolsa ingresso? Pelo menos esta Copa servirá para reformar e construir estádios dignos do nosso futebol. Quanto às questões sociais, como a seca, desemprego, insegurança e corrupção, são problemas mais complexos que precisam ser tratados com maior intensidade. Não depende apenas dos políticos, mas muita coisa pode mudar através de uma postura diferenciada no que se refere a velhos hábitos culturais. Se eles não querem que resolvamos o problema da seca, façamos a nossa parte e tentemos viver sem nos tornarmos torcedores eleitorais, em busca de um mísero emprego.

O Brasil continua a ser o país do futebol, por causa dos cinco títulos mundiais conquistados. As negociatas que acontecem nos bastidores mediocrizam o nosso esporte bretão. O número de miseráveis foi reduzido no nosso país, de uns anos pra cá. Diminuíram por um lado e aumentaram pelo outro. São os miseráveis funcionais, agarrados a uma bolsa oferecida pelo Governo e que sonham com as cotas, que maquiam uma realidade brutal. Se os políticos são os representantes de uma sociedade, então ,quando a sociedade mudar, os políticos também mudarão. Não sei se seria um castigo merecido, mas se a Argentina fosse campeã em 2014, até que não ia ser algo tão traumático como foi em 1950. Melhor que seja um hermano, do que uma Espanha com um futebol medíocre, burocrático, eficiente e bonito. Se for pela hora dos miseráveis, garanto que só assim, assistirei ou trabalharei numa partida de Copa do Mundo. Quem sabe?
 


 

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